Dr Eduardo Adnet


Médico Psiquiatra e Nutrólogo

Nomofobia. O Medo de Ficar sem o Celular


O que vem a ser isto?


Fobia é uma palavra que deriva do Grego e que significa: Medo. Em definição simples, Nomofobia é o termo que passou a ser utilizado para a fobia (ou o medo) de ficar sem a possibilidade de se comunicar pelo telefone celular. O termo deriva do Inglês no mobile phone phobia, daí a contração da expressão para o termo Nomophobia (Nomofobia em Português). A Nomofobia se expressa na angústia de se ficar privado do celular e desta forma não poder se comunicar com a família, com os amigos, confirmar ou desmarcar compromissos, ou ainda de manter contato com o trabalho. O fenômeno que começou com os celulares já se estendeu também aos Smartphones.

O termo Nomofobia surgiu em um estudo realizado no Reino Unido que estudava situações de estresse relacionadas ao uso de celulares. O assunto começou a ganhar popularidade desde que jornais britânicos, por volta de 2008, começaram a publicar matérias a respeito. A pesquisa citada relata que mais de treze milhões de britânicos relatam já ter experimentado sensações de ansiedade e angústia pelo receio de ficar sem a possibilidade de se comunicar pelo celular. Nos achados dessa pesquisa, foi também constatado que havia pessoas que se sentiam ansiosas simplesmente pelo fato de o celular estar desligado.

Atualmente, existem ainda diversos outros estudos relacionados ao uso da tecnologia no dia a dia das pessoas, grande parte deles relacionados ao uso excessivo de computadores, ao abuso dos videogames e também a determinadas mudanças de comportamento em razão de um envolvimento patológico com a chamada realidade virtual.

Sintomas


O sofrimento essencial desta condição é a ansiedade. Há determinados casos onde se pode chegar até a uma sensação de pânico em razão de se ficar privado da possibilidade de se comunicar pelo celular. Há pessoas que já manifestam sinais de ansiedade em menos de uma hora se ficarem sem verificar se há mensagens no seu celular. Angústia, dores de estômago, agitação, tonturas, suor frio, náuseas, aceleração dos batimentos cardíacos e até rebaixamento do humor têm sido relatados por pessoas que sofrem de Nomofobia.

Os hábitos regulares do dia a dia podem tender a ser modificados através de estratégias que a pessoa possa procurar adotar com a finalidade de se certificar de que seu celular estará não somente sempre à mão, mas também operacional. Porém, estes novos hábitos adotados nem sempre são adequados ao dia a dia dessas pessoas. Alguns dos problemas para estes indivíduos são os locais onde não é permitido utilizar o celular em todo momento que sintam a necessidade de usá-lo, como em reuniões de trabalho, durante aulas, dentro de aviões, em cinemas e teatros ou em bancos, por exemplo. Quando a pessoa se vê diante destas restrições ao uso do celular, a ansiedade pode começar a se manifestar, em maior ou em menor intensidade. E isto pode causar sofrimento.

Consequências


Assim como em algumas condições psiquiátricas, como no Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), por exemplo, o portador de TOC frequentemente busca disfarçar dos outros a sua doença. Por semelhante modo, a pessoa que sofre de Nomofobia pode eventualmente se sentir desconfortável ao perceber que pessoas à sua volta já começam a notar alterações no seu comportamento ou atitudes estranhas em relação aos seus aparelhos celulares. E isto pode aumentar ainda mais a ansiedade. Quando estas pessoas se tornam excessivamente dependentes do aparelho celular, isto pode torná-las bastante inseguras, e esta insegurança pode vir a ser prejudicial em momentos onde elas precisam desempenhar funções específicas no trabalho, na faculdade, em reuniões de negócios, dentre outras situações. Em consequência da fobia de ficar sem o celular, ou até mesmo de se deparar com a bateria descarregada, o rendimento geral do indivíduo pode vir a declinar consideravelmente. E isto pode se traduzir em prejuízos diversos para a vida destas pessoas, além da qualidade de vida que, evidentemente, também fica comprometida.

O limite entre um comportamento ou hábito corriqueiro e um comportamento patológico é o início de prejuízos e de sofrimentos causados pelo comportamento doentio. Muitas pessoas podem experimentar algum grau de desconforto, de inquietação e até mesmo de ansiedade por estarem privadas de seus celulares por algum tempo. Contudo reconhecem ser isto algo possível de ocorrer e não se desesperam em razão disso. Porém, se já há sofrimentos persistentes e prejuízos evidentes à pessoa, pode-se então já ser caracterizada a Nomofobia.

Percebendo o Problema


Por vezes, pode ser difícil de se perceber esta condição. Primeiramente, porque vemos pessoas com celulares todos os dias e por todos os lados, e isto dentro e fora de casa ou do ambiente de trabalho. Além do que, é comum vermos pessoas falando alto ao celular, por vezes agitadas e nervosas, como também quase todos os dias vemos pessoas dizendo: “perdi meu celular!” ou “onde deixei meu celular?”, sem que isto necessariamente guarde uma relação com a Nomofobia. Segundo, porque esta condição ainda é desconhecida da maioria das pessoas. Porém, ainda que muitas pessoas não saibam o que seja a Nomofobia, familiares e amigos podem começar a perceber a existência de uma relação de ansiedade com as queixas relacionadas ao aparelho celular.

 

Para muita gente hoje em dia, estar “desconectado” pode soar como algo inadmissível. E isto envolve todo o conjunto de equipamentos que permitem à pessoa permanecer “conectada” o tempo que desejar. Estamos falando dos laptops, desktops, tablets, smart-phones, celulares, dentre outros. E cada vez mais se detectam problemas no território da Psiquiatria decorrentes do abuso destes recursos tecnológicos. Talvez os casos mais conhecidos sejam os da adição (a dependência patológica - ou vício) a computadores e a jogos de videogame. No caso da Nomofobia, especificamente, há estudos que sugerem que esta condição tenderá a se agravar nos próximos anos.

Também pelo fato de vivermos em um mundo cada vez mais violento e apressado, não é de se admirar que muitos pais se sintam angustiados se não puderem estar em permanente contato com seus filhos. Porém, a simples necessidade deste contato, ainda que permanente, não necessariamente significa a presença da Nomofobia.

O tratamento


O primeiro passo é a informação sobre a Nomofobia. Saber o que é, e também como e porque são desencadeados os sintomas, como já falamos acima.
Diante disto, há pessoas que após reconhecerem que já se enquadram, ou que já começaram a apresentar comportamentos anômalos relacionados ao medo de ficar sem poder se comunicar pelo celular, já podem começar a adotar algumas medidas a fim de lidar com o problema. Para algumas delas medidas práticas como exercitar o autocontrole, mudar hábitos extremados e buscar novas estratégias para lidar com a comunicação pelo celular já podem ser medidas eficazes.

Há, todavia, casos mais extremos onde uma intervenção profissional pode já ser necessária. Neste caso, a Nomofobia pode ser abordada sob diversos ângulos. Um deles, frequentemente utilizado para o tratamento de fobias específicas, é a chamada terapia de exposição.
Este método consiste em um tratamento de exposição progressiva ao objeto fóbico (aquilo, ou aquela situação que a pessoa teme). A essência deste método é reverter o condicionamento mental relacionado à fobia específica. A terapia por exposição é aplicada segundo o fundamento de que a ansiedade é uma resposta condicionada que tende a diminuir através da habituação durante as exposições sistemáticas aos estímulos temidos. É um método terapêutico frequentemente utilizado no tratamento da Fobia Social.

Também assim como em outros casos de Fobia, o uso de medicação pode ser de grande valia, sobretudo para o controle dos episódios ansiosos que podem, em alguns casos, ser significativamente sérios. O importante é que haja um alto grau de especificidade e elevado grau de personalização no tratamento da Nomofobia. A escolha do tratamento por parte do Psiquiatra convém seja feita com muita exatidão.

Aqui podemos falar de duas situações. A primeira situação é de como amenizar o problema da Nomofobia, a segunda é a de como tratar o problema em si. E é importante que estas situações sejam entendidas de modo distinto, pois são situações muito diferentes.

Já existem até mesmo dicas para quem sofre do problema. Dentre elas se sugerem métodos a fim de se evitar a perda do celular, nunca deixar de andar sem o carregador do celular, criar backups dos contatos em outro aparelho, andar com baterias de reserva, personalizar o serviço de recados da operadora avisando a quem porventura ligar que o celular poderá estar desligado por algum tempo, e até mesmo o uso de aparelhos rastreadores para encontrar celulares perdidos. O problema é que estas situações não tratam o problema, mas podem até fomentá-lo e piorar a condição. O ideal mesmo é o tratamento caso a pessoa já esteja sofrendo e experimentando prejuízos em razão da presença constatada da Nomofobia.

Amigos e Familiares


A primeira atitude a ser tomada é não lidar com a Nomofobia de modo debochado, crítico ou jocoso. Há que se entender que existem pessoas cujos sofrimentos em razão desta condição podem ser bastante aflitivos. Se a pessoa acometida pela Nomofobia buscar conversar sobre seu caso, a postura adotada por parte de quem a ouve deve ser séria e compassiva, pois o sofrimento é real. E se a pessoa busca falar a respeito, isto já é um passo importante. O tratamento convém ser encorajado na medida em que a Nomofobia já tenha se tornado uma condição de aflição recorrente.

Considerações


O que eu teria a dizer para finalizar é muito simples. Como diz o antigo prolóquio: "hábitos mal controlados podem se transformar em vícios". E vícios sempre trazem prejuízos, pelo menos em termos psiquiátricos. Portanto, a idéia principal aqui é não se deixar dominar pelos hábitos com potencial para se transformar em vícios. Aqui o simples e histórico bom senso já pode evitar muitas dores de cabeça futuras.

 

Dr Eduardo Adnet

Médico Psiquiatra e Nutrólogo

 

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